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Entrevista - Uganga

 

- O que significa o termo UGANGA?

Manu Joker: Quando formei a banda, lá em 1993, o nome era Ganga Zumba. Eu treinava capoeira, estava estudando sobre os quilombos do Brasil e claro Ganga Zumba foi uma figura de destaque, um estrategista que mesmo lutando contra um inimigo muito mais forte reinou em Palmares por bastante tempo. Definitivamente era um revolucionário. Achei um nome interessante para uma banda, algo fora dos clichês do metal e do hardcore, e assim ficou. Em 1999 descobrimos que já havia outra banda na Bahia detentora desse registro e tivemos que mudar. Eu quis manter a conexão com o nome anterior então pensei em U-Ganga, no início com hífen. O pessoal que acompanhava a banda no início se referia ao Ganga Zumba como “O Ganga” então adaptei essa pronúncia com U e hífen só pra ficar diferente. Algo totalmente aleatório então, um nome sem significado específico, tipo Korzus, Kreator etc… Foi uma ideia que chegou e ficou, nem pensei em outras possibilidades pra falar a real, muito menos em uma explicação pra essa escolha. O significado inicial era manter a conexão com o antigo nome e só. Porém como nessa banda algumas coisas são reveladas somente na hora certa eu descobri anos depois que na filosofia hindu Ganga é a deusa do Rio Ganges e que Uganga no dialeto quimbundo remete a feiticeiro, mágico ou vidente. Isso depois de já termos lançado um álbum chamado “Atitude Lotus” (2002) numa clara referência ao hinduísmo ou uma música chamada “Couro Cru”, só pra citar dois exemplos que já ligavam a banda a África e Índia. O que mais vamos descobrir nessa história? Vai saber.

- O som de vocês é de difícil identificação. Como vocês se enxergam: Crossover seria um termo limitante?

Manu Joker: Eu penso que não somos uma banda de crossover típica como D.R.I., Ratos De Porão ou Cryptic Slaughter. Nós amamos essas e várias outras bandas com toda certeza, eu vim dessa escola oitentista de misturar os dois estilos, mas o Uganga é um lance diferente. Somamos a essa base crossover 80 influências de bandas dos anos 90 como Biohazard, Helmet ou RATM, temos muita influência também do rap, do dub jamaicano e de drum’n’bass. Pra mim a melhor definição é crossover livre com cheiro de coturno, incenso e ganja.

- “Ganeshu” é um álbum magnífico, mas demorei pra entender ele. Os fãs têm falado algo similar para vocês neste sentido?

Manu Joker: A recepção tem sido muito positiva, tanto por quem já acompanhava a banda como quem está nos conhecendo agora, 3 décadas depois. Os números no streaming estão interessantes e tenho visto as pessoas cantando as músicas novas nas apresentações. Quanto a sua dificuldade em entender o trabalho de cara, eu diria que tem a ver com a resposta anterior, se trata da dificuldade em nos definir dentro de um estilo específico. Num primeiro momento nossa fórmula pode parecer exótica, e eu eu creio que seja mesmo. Isso requer mais de uma audição e com o tempo o ouvinte vai entrando no nosso universo e reconhecendo nossa assinatura. Fico feliz que você tenha apreciado “Ganeshu”, acho nosso trabalho mais poderoso até aqui.

- Por qual razão optaram pelo português? Achei um pouco estranha esta escolha, sabendo que os estrangeiros vão consumir muito este trabalho.

Manu Joker: O Uganga fala com o dialeto das ruas, do underground, são nossas gírias, é o nosso sotaque, fruto do meio onde crescemos e nos moldamos. Por isso nessa banda o texto tem que ser em português , porém temos algumas experiências pontuais em castelhano ou inglês e podemos repeti-las em algum momento tranquilamente.

- Algumas passagens de Modern Metal me chamaram a atenção. Vocês pesquisaram sobre este nicho específico, para inserirem no material de vocês?

Manu Joker: Eu sinceramente tenho um pouco de dificuldade em entender esse termo, até porque pra mim o novo já nasce velho. Vejo muitas bandas fazendo um esforço enorme para parecerem modernas, se adequar a tendências ou seguir padrões de mercado e acho isso um tiro de 12 no pé. No nosso caso o lance é que não temos medo da mistura quando ela é natural é fruto de influências variadas, e também temos zero receio do julgamento de quem não aceita essas mudanças. Gostamos de bandas muito antigas, antigas, novas e muito novas, e vez ou outra alguns desses artistas podem nos influenciar. Se isso nos faz ter uma sonoridade mais contemporânea eu aceito.(Risos)

- “Ganeshu” saiu tem algum tempo, então como vem sendo a aceitação dele na imprensa e junto ao público?

Manu Joker: Temos entrado em algumas listas de melhores do ano, as resenhas tem sido muito positivas com notas altas atribuídas ao play e a demanda pelo álbum em formato físico é clara mostrando que os formatos tradicionais ainda tem seu valor na cena pesada nacional. Inclusive o lançamento de “Ganeshu” em formato físico está previsto para fevereiro de 2026 e na sequência vamos viabilizar também uma prensagem em vinil. Essa álbum preciso sair em vinil vermelho!

- “Tem Fogo!” e “Confesso” são as que mais gostei, mas imagino que não seja senso comum. Quais o público tem abraçado mais nos shows?

Manu Joker: Essas duas, até por serem os dois primeiros singles e clipes, tem sido bastante comentadas e ambas estão no set list da tour. Outra que vem obtendo um retorno forte nos shows é “A Profecia” que também acaba de sair em vídeo.

- Como se deu o processo de composição e produção deste novo álbum?

Manu Joker: Dessa vez foi um pouco mais complexo devido às mudanças que a banda enfrentou de 2023 pra cá, o álbum foi composto por uma formação e hoje estamos na estrada com outra. Fora isso foi o mesmo esquema de sempre, todos nós compomos as partes instrumentais eu cuido das letras e da pré produção onde organizo as ideias de todos e montamos as demos. Com as músicas arranjadas vamos pro Rocklab Estúdio em Goiás onde temos Gustavo Vazquez cuidando da captação, mix e master e co-produzindo o trabalho comigo.

- Um novo álbum já está nos planos? Esperamos imensamente que sim…

Manu Joker: Definitivamente sim, porém pra sair em 2027. Até o meio do ano vamos focar na tour de “Ganeshu”, depois disso devemos soltar um ou dois singles e mergulhar na composição do novo trabalho.

- Algo ficou a ser dito? Obrigado pelo tempo ao Sub Discos Blog…

Manu Joker: Se você que está lendo essa entrevista não conhece o UG nos siga nas redes sociais, em breve sairá um documentário em 4 capítulos sobre a saga de “Ganeshu”. Somos uma banda com 3 décadas ininterruptas dedicadas a música pesada, sem hype, sem grandes investimentos mas com credibilidade e assinatura, isso não se compra. Obrigado pelas perguntas inteligentes e instigadoras, nos vemos na estrada.

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