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Animatrix - The Second Renaissance: A Queda da Humanidade e o Triunfo Mortal da Cibernética

Os capítulos da animação Animatrix chamados The Second Renaissance abordam a queda da raça humana perante o domínio das máquinas; mostra o período que antecede essa dominação; a guerra entre homens e máquinas; o exílio dessas máquinas; a sua vitória; a exploração do corpo humano para a extração de energia e a criação do mundo virtual implantado nas memórias humanas, a Matrix.


A animação é dividida em nove partes, todas abordando o universo mostrado no filme Matrix, onde o herói Neo busca a salvação dos sobreviventes da raça humana na última cidade livre restante, Zion. Os dois capítulos The Second Renaissance têm sua história contada a partir do acesso aos arquivos históricos de Zion.

 A obra é uma coprodução entre Estados Unidos e Japão e conta com vários diretores, inclusive a dupla de irmãos responsáveis por Matrix, Andy e Larry Wachowski.

 Animatrix, assim como o filme que o originou, revela muitos traços religiosos, apontando referências da cultura judaico cristã, além da arte com influência da cultura hindu, porém na narrativa é onde as referências religiosas são mais evidentes, fazendo muitas analogias à bíblia, principalmente ao livro de Gênesis, distorcendo o texto sobre a criação do homem por um deus, mas contando a criação das máquinas pelo deus homem. 

 A arte da obra aponta traços do anime japonês, além da computação gráfica, evidenciando então a parceria EUA – Japão. Os dois episódios em questão ainda contam com a direção de Mahiro Maeda e com o roteiro inspirado pelos quadrinhos dos irmãos Wachowski.

 O que fica claro na produção, que é de 2003, é a inevitável relação contextual com a crise sócio cultural em que está inserida, quando então, há menos de dois anos antes, ocorreram os atentados ao World Trade Center. 

A forma como é tratada a crise em relação à independência das máquinas é muito semelhante ao medo que as grandes potências mundiais tinham, e ainda têm, em relação à dominação muçulmana. 

É possível notar em cenas sutis, como a em que uma mosca é morta sobre o mapa do Iraque, além da forma como são tratadas as máquinas humanóides após a ilegalidade de suas existências, muito parecida com a intolerância praticada em relação aos muçulmanos após o fatídico 11 de setembro de 2001, onde muitos destes foram hostilizados pelo mundo, tal como os robôs os são na trama, estes que revelam inclusive a noção de suas existências, mostrando sentimentos humanos e apelo por suas vidas. 

Também é evidente a analogia ao contexto da época na escolha da localização do refúgio e construção da nova civilização pelas máquinas, que hoje é exatamente onde fica o Iraque e que um dia foi o berço da civilização humana, a Mesopotâmia, revelando por sua vez, o sentido do título dos episódios, a Segunda Renascença, porém nesta, diferente da primeira, onde o homem se liberta da Idade Média e, em parte, dos dogmas religiosos, há a então libertação das máquinas do domínio humano, assumindo o poder não apenas sobre suas próprias existências, mas poder sobre o seu criador.

A obsessão do homem pelo desenvolvimento tecnológico, tanto nas ciências quanto no imaginário artístico, existe desde meados do século XVIII, com o surgimento da revolução industrial e a influência do pensamento iluminista e modernista, porém no caso específico de Animatrix, essa obsessão transcende a exploração do espaço, dos ciborgues e demais artigos oriundos da cibercultura, difundida massivamente nos anos 80. 


O que Animatrix aborda, assim como o longa Matrix, vai além, apontando a revolta da criatura perante o criador; o martírio da criatura diante da rejeição de seu criador, tal como o monstro de Mary Shelley no seu clássico absoluto Frankenstein, apropriadamente também chamado de O Prometeu Moderno, mas ainda, mostra a dimensão atingida pelo conceito de ciberespaço, onde nesse futuro, em que seres humanos nada são além de fontes de energia, a imersão contínua nessa realidade virtual é imposta a fim de amenizar o sofrimento do ser humano, para então um melhor aproveitamento na extração de energia. É aí que a obra atinge o seu apogeu sobre o imaginário da cibercultura, na criação dessa ilusão funcional criada pelas máquinas, denominada Matrix, conceito este herdado do clássico da literatura ciberpunk, Neuromancer, de William Gibson, lançado em 1984. É a revelação do medo do homem moderno, o medo do iminente fracasso perante a sua tecnologia, o medo de ser engolido por sua criação.

Fonte: Modus Operandi - Por: Jo Reis

                                                                       
    

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